sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Lenda da Cova da Moura

Um chefe mouro, reconhecendo que não tinha tropas que
chegassem para enfrentar um aguerrido exército invasor
dos seus domínios, abandonou o amuralhado da cidade e
refugiou-se com a família e a corte nos brejos da serra.
Carregadas por escravos iam, no meio do apressado cortejo
em fuga, as arcas cheias de tesouros, para serem
depostas em lugar seguro, longe da cobiça dos agressores.
Mas um escravo escapou-se do emboscado acampamento
e foi avisar o comandante inimigo. A partir daí, já nada
podia salvar os foragidos.
Ouvindo o grito da soldadesca que, de lanças e alfanges
em punho, trepava as faldas da montanha, o chefe dos
sitiados percebeu que ele e os seus não podiam esperar
clemência. Chamou de parte a sua filha, linda menina
moura, e disse-lhe, contendo as lágrimas:
- Tu és a jóia mais preciosa dos meus tesouros. Junto
deles vou encantar-te, para que nenhumas mãos impuras
aflijam a tua inocência.
E assim fez. Ele, que tinha poderes mágicos, transformou
a filha e as arcas carregadas de riquezas em pedras de
uma gruta. Depois, ainda tentou usar da mesma magia para
ele próprio e os seus mais próximos, mas já não foi a
tempo. Uma lança interceptou-lhe as palavras mágicas que
ia proferir.
Contam os mais velhos que aquele sítio se chama Cova
da Moura, porque, em noites de luar, ainda há quem veja a
menina vestida de branco, a andar sem rumo pelo alto da
serra. Ouvem-na lamentar-se em língua estranha e chorar
os pais e a felicidade que perdeu. Impressão será ou o sussurro
do vento pelo meio da folhagem dos castanheiros...
Seja do que for, os mais velhos acreditam que a moura
encantada da Serra da Penha guarda arcas e arcas de
tesouros por desencantar.

Vale a pena ir lá de propósito, em passeio, que mais não
seja porque do alto da colina, onde a meio da encosta,
alveja uma ermidinha, se abrange todo o casario da cidade
de Portalegre, o perfil do Castelo, as torres da Sé e, longe,
a Serra de S. Mamede e a imensa planura alentejana. É
outra forma de encantamento.

Autor: António Torrado

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